domingo, março 25, 2007

J.M

Não sei se sou capaz de responder convenientemente para aquilo que me alertas.
Ao ler a tua mensagem hoje, apercebi-me a quão significativa eu fui na tua vida e deixa-me ressalvar que também o foste na minha.
Como explicar o que me aconteceu nestes quase três anos?
É mais que certo que o desaparecimento da minha mãe transformou o meu mundo.
Sabes, deixou um vazio tão grande que nem os meus mais queridos amigos puderam preencher ou pelo menos atenuar a dor.
Fui criando um novo mundo, só meu. Vivi durante algum tempo numa espécie de negação interior, indo às minhas mais profundas entranhas buscar uma força anormal para sobreviver.
Nesta minha luta interior, abri a porta a uma só pessoa. Hoje sei o erro que cometi.
Mas foi extremamente importante partilhar a minha vida com ele.
Tornei-me dependente do que sentia, porque assim, mitigava o vazio que reinava na minha alma.
Ao tornar-me fonte para outro alguém fui me esquecendo das minhas próprias dores e da secura que este areal de emoções me prendiam ao passado. Mas isto é muito pouco para tentar explicar o que fez o tempo para nós perdermos um do outro.
No fundo, eu é que peço desculpa, porque não tenho desculpa nenhuma para ter-me ausentado tanto tempo da tua vida. E se me permitires, não como compensação, mas sim porque também sinto a tua falta, vamos deixar o tempo nos aproximar, devagar, sem promessas nem desculpas.
Não foste tu quem errou, fui eu que não soube gerir-te no meu novo mundo.