quarta-feira, dezembro 13, 2006

Neste lugar onde me encontro

Neste lugar onde me encontro não me gela o frio que do mar vem,
não me esclarece as ideias o movimento violento das ondas
e nem me limpa a alma a espuma que resta na areia.
Neste lugar onde me encontro,
vejo-te sobre a luz do porto como uma sombra…
Não me trazes nada de novo na faina da noite
e o amanhecer é negro, obscuro e deprimente.
Porque se nada de novo trazes, também nada de ti fica.
Neste lugar onde me encontro, aprendi hoje a cortar rede.
A rede que a ti me prendia, não a teço mais,
qual mulher de pescador que nas horas mais sombrias
tecia a rede com a vontade que o mar trouxesse o seu homem de volta.
Neste lugar que eu me encontro, deito o resto de rede ao mar.
Neste lugar onde me encontro, já o barco ancorou,
destroçado pelas águas frias, pelo cansaço de noites mal dormidas,
pelo tempo que ao mar dedicou.
Vou recolher ao negro que trago vestido na pele,
vou secar as lágrimas que o mar também marcou.
Neste lugar onde me encontro, vou falar de desencontro.
Neste lugar onde me encontro, tu não mais me vais encontrar.