quarta-feira, setembro 13, 2006

Momento I


Ao vê-lo, o coração entrou em ritmo frenético, secou-lhe a garganta como um rio africano em tempo de seca, e o sangue escuou em forma de água pelos veios desse mesmo rio seco...
Como num filme dos anos quarenta, a negro de preferência, pois só assim as expressões eram verdadeiras e simples, ela olhou... e parou por fracção de segundos que tornaram-se em horas, tornaram-se em tempo.
O ar tornou-se irrespirável e isso fê-la reentrar no seu corpo e voltar às cores da vida.
Deixou sair lentamente o ar que tinha mantido inconscientemente suspenso... e sentiu o cansaço que se lhe abateu pelo corpo.
Já longe dessa imagem, veio-lhe à memória os caminhos que tinham sido feitos pela vida que os fizera encontrarem-se...(põe a música o mais alto possível para sair dessa memória...mas não resultou).
Desiste! pensou ela e entrou de novo nesse quadrado de memória, dizendo a si própria: - É só esta vez, é só a última vez!!!
Foram os olhos dele que lhe tinha chamado a atenção, daquele verde indefinido e enigmático. Isso, era mesmo isso, ele era enigmático, e ela? Uma curiosa da natureza humana!!!
Vem-lhe um sorriso ao rosto... A batalha que se combate só com os olhos, é impressionante e única.
Quando o viu, todas as luzes e sinais de perigo acenderam, como se o seu cérebro fosse Las Vegas em plena actividade!!!
Mas ela pensou, ok, o que se faz em Las Vegas fica em Las Vegas, portanto, ignorou todos os sinais e amou.
Aqui, já a dor ameaçava e a cabeça latejava, por isso resolveu saltar algumas páginas da história deles e pensou em voz alta:- Qualquer dia vou a esse canto escuro, mas não agora! Agora só quero saber como é que olhar uma pessoa não a faz ver, ou seja, como é ténue a linha entre o olhar e ver.
Era sobre isso que iria dedicar alguns momentos de si para entender, afinal, a viagem ainda era longa, estava sem pressa e precisava de entender-se.
O que ela tinha sentido teria sido verdadeiro? As palavras trocadas teriam algum tipo de sentido? Os momentos teriam sido reais? Foi tudo tão surreal... e tão profundo.
Quem era a pessoa por quem ela se tinha enamorado? Que mãos eram aquelas que lhe tocaram? Que corpo era aquele? Quem ERA?
Quem era ela naquele momento?
Por uma fracção de segundos foi invadida por demasiadas imagens e não aguentou...
Talvez num outro dia, numa outra altura ela poderia continuar aquilo que ela chama de: o retorno para a frente, ou seja, lembrar para apagar. E sem ter tomado algum sentido, já tinha percorrido os quilómetros que a fazem chegar a casa. Parou o carro, desligou a música e respirando fundo saíu do carro ao encontro daquele rosto de olhos castanhos e profundos como o amor que ele sentia por ela e sorriu-lhe.