domingo, outubro 12, 2008

Não te esperava

Não te senti entrar, porque tens o estranho hábito de apareceres do nada. Apareces porque te apetece, porque eu não espero ou quero. Mas lá estás tu, o mesmo sorriso jocoso, o mesmo brilho trocista no olhar e na mão, seguras o casaco como só tivesses ido á rua por uns instantes. E sentas-te confortavelmente, numa posição só tua e olhas-me. Esperas um sinal de mim e eu recuo. Hoje, não te quero aqui. Acendo um cigarro, sempre distraio-me das tuas reais intenções e da minha vontade. É quando o cigarro apaga que , meio esquecido numa mão, que me puxas contra ti, forçando o quebrar das nossas barreiras racionais. Bruto, invades a minha boca, esmagas os meus lábios contra os teus, quase como senão tivesses tempo para mais nada que eu. Espalmas as minhas costas de encontro à parede e quando me viras, sinto o frio da parede contra o meu rosto fogueado. Vais descendo as tuas mãos como se me revistasses, encontrando espaços em mim que me fazem gemer ainda mais. Afastas as minhas coxas e sobes-me a saia. Os meus seios entumecidos raspam na parede, onde me prendes e dominas. Espalmo as mãos, erguendo-as em rendição. E as tuas mãos vão caminhando diabolicamente neste corpo que já não me pertence. Sinto-te vibrante, duro. E peço baixinho que acabes com a minha tortura. Arqueio o meu corpo para te sentir ainda mais perto. Viras-me devagar e sem qualquer pudor quase arrancado a ultima peça que ainda cobre o meu corpo, imerges-me numa volúpia feroz. O cavaleiro no seu esplendor, o macho no seu habitat, o primitivo animalesco. Já as minhas mãos encontram-se perdidas em todas e em nenhumas partes desse corpo. Selvagem fustigo o teu quadril com as minhas botas e arranho essa pele que me enlouquece, enquanto me invades uma outra e outra vez, num ritmo alucinante. Deixo-me cair no chão por entre as roupas caídas, sem força, sem energia, transpirada e húmida. E tal como não te senti entrar, também não te vejo ir. A única sensação que eu tenho que cá estiveste é o cheiro que deixas impregnado em mim. E logo hoje que eu não te esperava, que já não te queria e que não te quero mais.