quinta-feira, outubro 16, 2008

Existir

Caminhava sobre a areia já fria do Outono que se aproxima, apesar dos poucos raios de sol que ainda anunciam um dia menos cinzento. Na mão, um cheiro de mar salgado e no peito uma onda turbulenta, feroz e pronta a estatelar-se violentamente contra uma qualquer rocha que atravesse o seu caminho. Anda devagar, como se carregasse o mundo nos pequenos ombros e o olhar, esse é frio, tão frio como a água que pisa. Cabeça baixa, deixa marcas na areia molhada que logo desaparecem numa onda. È assim a sua existência. Fria como o vento outonal, gelada alma pela brisa marítima, rosto escondido pela sombra do medo…e marcas que desaparecem pelos caminhos que percorre. Apetece-lhe gritar bem alto, arrancar aquela dor que a faz morrer um pouco mais todos os dias… Entra mar adentro, por entre a fúria das ondas e deixa o seu corpo tombar sem forças, sem vontade, sem vida. Já não sente o frio nem tão pouco vontade de voltar. Ali quer ficar. Por entre as ondas daquele mar que a levem para um outro lugar. Mas nem o mar a quer e arremessa o seu corpo de volta à praia, de volta ao mundo dos Homens, de volta a uma vida que não quer mais. Não sabe se chora ou se ri, porque é assim a sua existência, um corpo presente, uma alma desfeita, uma vida que não quer e uma solidão constante.