terça-feira, novembro 20, 2007

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Chegou tarde, mas acabou por aparecer, devagar, como se tivesse todo o seu tempo.
Mas alterou o tempo, deixando nas janelas gotas de saudade e no ar o cheiro quente de uma chuva tardia. Sem sinal de si há muito, indagava-me por onde andaria. Confesso que me fazia falta. Há uma qualquer magia que me atrai nos dias cinzentos e chuvosos. Gosto da chuva. Completa a minha estação de tempo favorita. Gosto do som que embala o meu adormecer, gotas pesadas fustigando a janela do meu quarto. E todos os pequenos ruídos que crescem com ela. O piso molhado da estrada, o bater do pára-brisas numa dança constante. As pessoas caminham mais depressa como se lhe pudessem fugir… Eu, ando ainda mais devagar, porque encosto o meu rosto à vara fria do meu guarda-chuva e ouço-a a cair devagar à minha volta. Lembro-me da explicação que a minha mãe me dava quando chovia e eu não podia brincar lá fora. Diziam-me que era Deus que chorava, e que cada gota era uma mensagem Dele. E eu ficava de nariz colado à vidraça tentando entender de quem seriam aquelas gotas que ficavam a deslizar suavemente pela janela. Talvez por isso eu gosto da chuva. Porque aprendi que há várias formas de aliviar a tristeza e a chuva é uma delas.