terça-feira, março 06, 2007

Quando?

No limiar das suas forças encara a vida em tons de um cinzento que desconhecia.
Habituada a ver as cores perfeitas na sua essência, depara-se com o gosto completamento amargo da desistência…
As alterações no seu comportamento foram – se revelando pouco a pouco.
Começou pela forma como se deitava, cansada, exausta. Uma exaustão para além do físico. Abandonava o corpo sobre a cama e fitava o tecto.
Fechava os olhos e sem saber ao certo de onde vinha aquele rio, onde estava a sua nascente, chorava. Acabava por adormecer por entre o húmido da almofada.
O acordar era ainda mais doloroso, arrastava-se para fora da cama com o impulso do dever.
Deixou de olhar para o espelho, assustava-a a palidez e muito mais o olhar que reflectia do outro lado.
Quando é que deixou de gostar de si?
Vestia qualquer coisa e saia com uma leve esperança que o barulho da cidade entorpece-se os seus pensamentos.
Instaurou-se uma rotina de auto destruição.
Consciente de que tinha de alterar esta decadência, procurou aquilo que a fazia sempre sair ilesa nos momentos mais complicados, procurou a raiva. Desta vez não resultou. Ainda se mantém neste estado catatónico e quase moribundo.
Porque não há nada que cure o corpo se a alma se mantém doente.
Quando é que deixou de gostar de si?...