quinta-feira, novembro 02, 2006

A Fuga



Dá-lhe sempre uma sensação de fuga cada vez que vem a uma estação.
Entre as pessoas, incógnita, segue o trilho de cada uma,
Como se cada pessoa que embarcasse fosse mais longe do que ela.
Como se a cada degrau que se sobe
mais perto se fica e mais longe se irá.
Hoje, ao despedirem-se deu-lhe uma vontade suprema de apanhar um outro comboio.
Seguir em linha diferente, seguir um destino diferente.
Não sabe se era o cheiro da manhã ou se simplesmente era o frio que a rodeava.
Deu por ela a vaguear os olhos sobre o placar das partidas…
A cada movimento de partida efectuada, mais apertado o espaço se tornava.
Olhou uma vez mais as pessoas que a rodeavam.
Nenhuma delas a iria interpelar.
Nenhuma delas a conhecia.
Nenhuma delas a amava…
Soltou o ar devagar e pensou…
"Como seria bom…"
Deu a si mesmo o prazer de um novo olhar e partiu.
Saindo da estação, aconchegou um pouco mais o casaco.
Sentiu as lágrimas quentes a correr pelo rosto vermelho.
“Tenho de partir, pensou uma vez mais, não posso ser responsável pela felicidade de alguém que a cada dia mais me diz menos…