Nunca temos tempo para nós, para nos conhecer, para ir mais fundo do que a crosta da vida, porque se pararmos, e fizermos uma incisão mais profunda, a pele ressente-se, o sangue aflora e verte-mos, literalmente tudo aquilo que escondemos, tudo aquilo que realmente somos, tudo o que deixamos para trás, e isso, pode custar-nos encarar a dura realidade, que é sermos feitos de emoções, experiencias e de medos e que não conseguimos estar sós!
É mais fácil, confesso, ocupar-me com os outros, com outras vidas, com problemas que são pequenas manchas, pequenos pontos no mapa da nossa vida e não a vida em si. Custa-me admitir derrota, frustração e mesmo solidão. Rodeando-me de pessoas, escondo o meu eu, as minha cicatrizes, os meus pontos a arrebentar, e o sangue degradado que ficou no meio das travessias a que me propus. Fiz a incisão mais profunda, e vi-me a sofrer as dores , a resolver problemas , a dar alegria, a dar o meu ombro, o meu corpo, a minha ultima energia a outros. Estava grata por isso, mas não era o suficiente. Algum dia eu teria de ficar a sós comigo e conhecer-me. Aceitar essa que eu sou, essa que eu criei, essa que não viveu as suas emoções, essa que se escondeu num corpo estranho e viveu a vida de alguém. O primeiro corte é sempre o mais difícil, não se sabe por onde começar, se pelo fim ou pelo inicio. Somos sempre filhos de alguém, pais de alguém, amigos de alguém, familiar de alguém, conhecidos de muitos e estranhos a nós próprios. Eu escondi-me na perda da minha mãe, na felicidade da minha irmã, na alegria e bem estar dos meus amigos, no amor que eu sempre soube existir e dei-lhe vida, anulando-me. Fui escondendo os meus eus, atrás dos eus de quem não importa realmente. Fui a amante, a degenerada, a vitoriosa, a louca, a séria e nunca, nunca, nestes momentos todos eu consegui ser eu. Estava ocupada em ser alguém para alguém. O que resta disso, é que eu sou uma estranha para mim. Por isso, quando insisti em incidir mais na ferida que trago constantemente aberta, renasci para mim. Olhei-me, aos meus olhos e não na visão dos outros. E decidi, por escolha própria, não sentir. Alhear-me dos outros, dos seus eus, e importar-me só comigo. Por isso, não sinto, não amo, não cuido, não me importo, nem quero mais viver em falso com a pessoa mais importante da minha vida, EU. Serão precisas demasiadas operações, cortes, suturas, e tempo de reabilitação. Por isso, por agora, não sinto, não amo, não cuido, não me importo. Estou sozinha, por escolha! Não sinto, por escolha! Mas vivo! Vivo todos os dias para conhecer-me melhor, para me respeitar, para me aceitar. Já cresci, amadureci, só me faltava viver. E isso é o que eu faço hoje! Alheia a outros, livre para todos e com a sólida promessa, a quem realmente tem importância… Just Me, myself and I!