segunda-feira, junho 25, 2007

Tu

Olhei para o teu rosto como se fosse a primeira vez. Um rosto que há anos me acompanha…
Não o fiz de propósito. Dei comigo a olhar-te fixamente e não me perturbou a surpresa.
Posso sempre dizer que foi qualquer fio de luz que tornou os teus olhos numa cor secreta ou que estavas sentado de forma diferente.
Mas não foi isso que aconteceu.
Foi a tua gargalhada. Fez-me levantar os olhos dos papéis e senti-me presa e impulsionada a olhar-te.
Notei as pequenas rugas que transformam o cinzento do teu olhar quando ris.
Nem sequer sabia a cor que deles brotava!
Cinzento…estranho.
Depois como paralisada, continuei a minha pesquisa.
Tens uma forma pouco comum de tentares organizar o cabelo, ainda mais o desalinhas e ficas com ar de menino travesso.
Apeteceu-me desalinhar ainda mais esse cabelo e percorrer devagar o trilho de brancas que já te crescem nas fontes, feito fios de água num rio turvo.
Detive-me na tua boca e aí, bateu mais forte o respirar e o corpo reagiu à visão.
Senti-me incomodada mas não constrangida o suficiente para parar de olhar.
A tua boca é delineada num traço firme que transforma o teu sorriso em algo de misterioso.
Estava tão concentrada na minha descoberta que fui apanhada por um sorriso de interrogação. Abri a boca para dizer algo, mas fiquei-me só pela intenção. Uma vez mais interrogaste-me com o olhar. Não sabia o que te dizer. Levantei-me apressadamente com o coração descompassado.
Olhei-te vezes sem conta e hoje, pela primeira vez vi-te.