Cartas de amor
Um dos tesouros que os meus pais me deixaram são as cartas trocadas durante um penoso namoro.
Guardo-as comigo porque de vez enquanto preciso de as ler, de sentir o que os unia e o que fazia com que a minha mãe sempre me dissesse que o grande amor da sua vida tinha sido o meu pai.
Guardo-as porque preciso de acreditar no amor, na união de almas, nos encontros que a vida nos propicia.
Gostos da forma como começam: Meu amado, ou minha estimada amiga, ou simplesmente, meu querido… e da forma como terminavam: com saudade, eternamente teu, ou simplesmente, um beijo na sua mão!!!
E no desenrolar dessa melancólica escrita, faziam-se promessas e escreviam-se sonhos.
Sou uma incurável romântica e aos meus pais o devo. Nunca assisti a um desagravo entre eles e sempre senti que se amavam. Era fácil de ver, o meu pai sempre com aquele sorriso de malandro e a minha mãe uma atenta mulher e mãe.
Quando mais pequena, pegava, as escondidas, nessas cartas e pedia, quando apanhada, para que a minha mãe as lesse… iluminavam-se-lhe os olhos e a voz tremia, lia com calma e sorria sempre no fim.
Nunca mais vi esse sorriso na minha mãe.
Quando o meu pai partiu, cedo demais para tanto amor, ficou em mim aquela ilusão que, por breves momentos que sejam, devemos sempre amar em toda a nossa essência, com tudo o que de bom ou mau temos…amar simplesmente o outro.
Hoje, ao lembrar esse tesouro, gosto da ideia que os meus pais, bem lá no alto, encontram-se sentados numa nuvem qualquer, completamente enamorados.
Pode já não haver cartas de amor como antigamente, mas o amor, esse é intemporal, quando verdadeiro.
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