Magestic
Há um velho amigo que costuma dizer: eles dão-me tempo!!!.
Esta frase não lhe sai do pensamento enquanto passeia pelas ruas impregnadas de gente com tempo e sem ele.
Não consegue imaginar o que faz tanta gente no mesmo local, parecem rostos disformes, sem traços característicos ou familiares, são gente, gente que passa, gente que fica, gente que hesita, gente que não tem gente.
Há muito que não tinha tempo, tempo para si. E hoje, resolveu dar um tempo a si própria.
Sentou-se como há muito não o fazia, naquele café intemporal.
Lá fora continuava o mundo cheio de gente.
Pediu um chá, e aqueceu a alma por um tempo.
Sempre que lá vai, parece-lhe estar num outro tempo, numa outra dimensão.
Faz-lhe bem.
Assim, não precisa de lembrar-se que já não tem tempo e que o fim aproxima-se…
À sua direita, estão sentadas duas senhoras, de maquilhagem intemporal, onde o rouge predomina e as roupas denunciam o seu próprio tempo. Conversam alegremente sobre o natal, os filhos, os netos, aqueles que partiram, aqueles que deixam saudade e aqueles que ficam, quer queiram quer não.
Deixam marcas de baton na porcelana…
Dá consigo a pensar como seria chegar aquela idade…que estórias teria para contar, quem estaria a seu lado para as partilhar…
Enquanto escutava atentamente a conversa alheia, entra um senhor distinto, figura habitue do local…
Sempre teve curiosidade sobre senhor, talvez porque arrisque a ser diferente, talvez porque ele mesmo seja uma figura do passado, o seu bigode arrebitado, a capa preta sobre os ombros ou mesmo a bengala com mão de marfim… quem sabe, se ele é que está no tempo certo.
Deixa aquele recanto sem tempo e volta para junto dos apressados…
Sobe a rua sem pressa, e sente uma vez mais que lhe foge o tempo…
Porque não pertence mais a este tempo!
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