segunda-feira, setembro 18, 2006

Momento III


É insuportável o lugar que ela se encontra.
Perdida entre a voz que a acompanha e a mão que a segura.
Cada vez que ele segue o caminho de volta a casa, cai o silêncio à sua volta.
É como se lhe fugisse a vida nesse silêncio, como se o tempo parasse de propósito para lhe dizer em surdina: "nunca serás o seu regresso, nunca serás a amada, nunca!".
Amaldiçoa os deuses que lhe traçaram tal fado, amaldiçoa ele não a amar...
Se pudesse varrer no espaço do seu corpo as marcas por ele deixadas, e aceitar o amor que lhe oferecem...
Porque não é a ausência que dói.
Aprendeu a viver com o vazio que ele deixou, aprendeu a viver com a sua consciência, com as suas decisões...
É o seu corpo que reclama o torpor inebriante que sentia,
é a sua mão que se estende e agarra o vazio,
são os seus olhos que deixaram de brilhar.
E de novo a razão terá de ser o seu guia, porque entre os escombros ela sabe, que chegará o tempo em que a dor será menor e voltará a amar...
E este é o seu último pensamento da noite.
Naquelas noites em que a saudade invade o sonho, naquelas noites em que o peso que carrega na alma é mais forte que o cansaço, naquelas noites em que permite a si própria pensar que ele realmente a amou!