sexta-feira, setembro 26, 2008

sentidos

Estende-me sobre a cama, desnudando-me com a calma da lua e o calor do sol. Pede-me em mudo olhar que transponha o espaço que o impede da minha pele tocar. Dispo aos poucos as últimas peças que aprisionam este corpo que te espera. Vejo-te encostado à porta do quarto enquanto a última peça caí no chão. E esse olhar que quase me leva às alturas de Olimpo. Fazes sentir-me deusa em forma nua, escultura inacabada, barro por moldar, jóia a lapidar. E isso só com o olhar e o corpo prostrado à porta do meu quarto. Avanças lentamente, enquanto o teu corpo cria sombras no meu. A noite já caiu sobre o dia, mas é a espera da noite que torna os meus dias especiais. Vendas-me os olhos em cetim, e quase deixo de respirar. Pára aqui o tempo. Inebria-me o cheiro que transpões na minha pele. Fazes-me lânguida, deserta e a humidade cobre o meu corpo com pequenas gotas de suor que esfriam temporariamente o fogo que me queima a pele. Hoje sou tua, sem pressa, sem força, sem vontade própria. Marionete dos sentidos. Estou completamente sobre o teu domínio e isso desperta a luxúria que existe em mim. É a tua língua que humedece os meus seios, traçando uma curva ascendente nos meus sentidos.
Paras e recomeças, amas e torturas. Cega, rasgo a tua camisa preta e ouço o estalar dos botões que voam para parte incerta. E nesse voo, tu marcas a rota, percorres o caminho e encontras o teu destino final entre as minhas coxas. Elevas o meu corpo de encontro ao teu e frente a frente, voluteias as minhas ancas e penetras tugido em mim. Abafas os meus sons quando encontras a minha boca. Moldas o barro, esculpes o meu corpo com hábeis mãos e lapidas a pedra em bruto que há em mim. Tornas-me inacessível, Deusa. E já madrugada, contornas o teu corpo no meu e adormeces-me nos braços de Morfeu.