terça-feira, julho 15, 2008

O esquecer

Hoje não é o primeiro nem o último dia da minha vida, assim espero porque só são 15.15 e ainda tenho algumas horas em que o destino me possa pregar uma partida…Para mim é um dia normal, apesar de um acordar sobressaltado com a campainha a buzinar no momento em que estava nos teus braços. Acordei ainda com o teu cheiro no meu corpo e o carteiro a reclamar a minha atenção. Ao meu quem é, resposta pronta, tem aqui algo para assinar.
Assino à pressa porque o meu estômago me pede alimento e o carteiro nem é nada de interessante. Entre uma chávena no microondas e uma tosta na mão percorro as novidades que me arrancaram tão cedo da cama. Contas e mais contas, publicidade que entulha o lixo e a dita carta que me fez sair do meu mundo.
Nada de novo, apenas mais uma conta, penso. O leite já está pronto, e eu preciso de acordar, pois ainda me mantenho em estado letárgico.
Vou para a sala e sinceramente, não me apetece abrir as cartas, não quero acentuar ainda mais o meu mau feitio. Depois do banho, saio para a rua, tenho de ir ao supermercado e decido, como tenho vindo a fazer ultimamente, deixar o carro e andar a pé. Vou-me cruzando com as pessoas , mas o meu pensamento fixa-se no sonho. Sinto que estou a perder a memória, já não vejo o rosto nem sequer me lembro da voz, só de uma presença difusa. Enquanto faço as compras ocorre-me este pensamento: Não é fácil esquecer, o difícil é não querer lembrar. E por entre as cenouras, os cereais e outros afins, apercebo-me que esqueço sem querer, que haverá momentos que provavelmente terei de novo um esquisso de sensações, e que há um momento e um tempo predefinido para tudo, e que o teu tempo já acabou. Como ando a perder memórias, estou agora a fazer aquilo que não sei, escrever, para que um dia, talvez, me lembre deste dia...