segunda-feira, dezembro 31, 2007

A rua das 3 horas

Toca-se na campainha três vezes, é uma espécie de sinal a anunciar quem chega. E a porta abre-se, sempre. Sobe-se as escadas e entra-se em casa. No hall um sorriso da mãe, ou um beijo da mana ou simplesmente o pai, sempre à pressa e a pedir que apague a luz da entrada. Depois do hall, a cozinha. Televisão ligada, e agora que faz frio a lareira acesa. Há um odor no ar que impregna os sentidos. A sensação de quem atravessa o deserto e finalmente chega a bom porto. Entre os beijos e o reclamar de não ter chegado mais cedo, conta-se o dia, alguma experiência boa ou má. Se a mãe está, já se sabe o que fazer para o jantar, se não está, o pai anda às voltas por entre os armários e o frigorífico. Chega o mano mais novo: Alguém tem de me levar ao treino!!!. Normalmente vai a mãe… e por vezes vai a filha mais velha, só para poder conversar um bocadinho com ele, ou mesmo deixá-lo experimentar o gosto de conduzir. Faz-se o jantar com prazer, sempre, e até se adivinha quem é que ensinou a cozinhar naquela casa. O jantar é uma espécie de ritual familiar, onde cada um sabe o que fazer. Quando a mãe ainda não chegou, o pai enche dois copos de um vinho especial, só para os cozinheiros desse dia. Quando finalmente o jantar está pronto, a família senta-se e faz-se um silêncio… primeiro comentário? Como está o jantar! Aí começam as guerras pessoais sobre como poderia ficar melhor uma coisa que já está excelente. Por entre uma garfada e outra e sempre com a mãe a colocar mais comida no prato da filha mais velha, o pai diz: estou cansado e não me apetece comer… É a sua frase e quase se adivinha quando a vai dizer, pois é gargalhada na certa. Fala-se de tudo naquela mesa, desde assuntos menores até trocas de confidências impensáveis. O vinho é sempre bom e nada como gelado com chocolate quente para finalizar. Depois, o café, e mais conversa e picardias entre todos. A mãe faz o descafeinado à moda antiga…digamos que tem jeito com a mão. Entre o café e o cigarro, decide-se quem arruma a cozinha. Quando se sentam na sala, cada um deles já se riu, zangou, discutiu ou simplesmente desabafou. Reina nestes momentos a tranquilidade de estarem unidos. A mãe está sempre com sono e quando arrebita é extremamente engraçada. O pai diz que é o trivial, a mãe molha as pontas dos dedos, a mana senta-se no chão e a filha mais velha absorve aquele pedacinho de céu que lhe deram. Custa sair desse cantinho, por isso, com algum esforço, fuma-se o último cigarro. O pai acompanha a filha mais velha ao carro e fica no portão até que ela lhe diga adeus. Há algo de especial na rua das três horas, onde o tempo para. Há tempo para tudo e acima desse tempo o enorme amor que se vive nessa rua. É a rua onde eu estaciono o meu carro e chego finalmente a casa.

1 Comments:

At quinta-feira, janeiro 03, 2008, Anonymous Anónimo said...

Tão linda!! :))

É a rua da nossa casa e chega! Está td dito!!

Faltam as famosas expressões da mãe!!, com cara de... nada! e depois: o q é q tão praí a falar?! enquanto as duas manas tb falam de nada, (ou de coisas entre elas! ;)) ou simplesmente a rir ou sorrir! ... e depois o pai fala fala fala... "o que ele está para ali a falar?!?!?! LOL! DEMAIS! :D :D

Beijinho maninha!*

Feliz 2008!

 

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