quarta-feira, julho 18, 2007

Teia

Teia que teço no fiar dos dias. Removo dos escombros um sinal de vida e volto a tecer a minha teia. Fio a fio numa encruzilhada de linhas que enovelam-se umas nas outras como se elas próprias tivesse vida. Olho de nova as mãos que rapidamente percorrem os furos deixados ao acaso. Uns sem remedeio, outros a custo colam-se partes e continuo o meu tecer.Teço por força, por perseverança e respeito pela vida que me colocaram nas mãos que tremem quando um ou outro fio não cabe no lugar que devia.
Teço as formas e as cores que coloriam a minha infância e o meu sonho. E por mais que teça, há lugares que nunca poderei recuperar, há pessoas que deixaram esta teia. E as mãos que a trabalham já não são as mesmas.
Estão duras e calejadas. Tecem mecanicamente. Sem emoção ou visão. Apenas tecem, uma e outra vez o que a vida leva a tecer num emaranhado de encontros e desencontros, em constantes despedidas e reencontros. Em palavras e actos ou mesmo no silêncio e na ausência.