domingo, maio 24, 2009

Capítulo I (cont)

Hoje é a tarde da fofoquice, estou de novo com as minhas queridas amigas. Bebendo o suficiente e a falarmos todas pelos cotovelos. É a nossa tarde mensal e promete.Passada meia-hora eu já estava a ficar um pouco farta daquela conversa! A Sério! Será que as mulheres não se podem encontrar simplesmente pelo prazer de estarem umas com as outras sem indubitavelmente acabarmos uma conversa amena na razão da nossa existência: HOMENS!!!
Se calhar sou só eu, mas ultimamente não me apetece mesmo nada falar sobre a inconsistente existência do sexo oposto. Pedi mais uma garrafa de vinho, estava a precisar mesmo de mais um copo para me aguentar sem dizer um dos meus habituais disparates.
Margarida olhou-me do outro lado da mesa, com um enorme ponto de interrogação no olhar, devolvi-lhe um dos meus mais normais sorrisos ao mesmo tempo que fingia estar interessada nas toalhas de banho que o António constantemente deixa no chão após longos cinco anos de tentativas da Patrícia em lhe explicar onde colocá-las. Ok, tenho as melhores amigas do mundo, são uma espécie rara nos dias que correm, mas sempre que nos juntamos, acabamos sempre com o mesmo tipo de conversa, ou com o mesmo tema. Todas se queixam do mesmo: ou porque não lhes dão a atenção necessária, ou porque só lhes apetece fazer amor, independente do dia exausto que tiveram, etc.
Queixam-se, mas lá no fundo, não podem sequer pensar as suas existências sem os ditos. Casadas, solteiras, divorciadas, ou outra coisa qualquer, as suas relações são e serão sempre a total finalidade fantástica que uma sociedade machista impregnou as nossas mães e nós, fies depositárias de tal pérolas de sabedoria, vivemos na sombra dos medos. A solteira, inveja a casada, a casada, inveja a liberdade da solteira, a divorciada, apesar de ter deixado o marido, continua a querer ser solteira, mas ter um relacionamento de casada. O que me faz lembrar de novo certos momentos em que já estive quase casada, detesto ser solteira, mas também não quero ter um relacionamento. Bolas, ando mesmo a precisar de fazer uma terapia radical, penso, enquanto emborco mais vinho para atenuar este impulso de as mandar todas para casa e serem felizes com as opções que tomaram!!! M, nunca conheceu as minhas amigas, aliás, fui eu que escondi-o delas. Margarida volta a olhar para mim como se eu fosse de outro planeta. Ela tem razão, eu não sou deste mundo, por isso, vou continuar a beber, e a ouvir, pode ser que aprenda alguma coisa. De novo esta porcaria … porque diabo aquele anormal não saí da minha cabeça? Apetece-me tanto ir para casa, mas já sei que se sair desta mesa, todas elas vão andar semanas a tentar descobrir o que se passa comigo. Estes recuos no tempo fazem-me mal, mas enquanto eu não perdoar-me das asneiras que fiz, nunca mais me libertarei. E foram tantas…
Cont.