quinta-feira, abril 05, 2007

Quisera eu...

Sinto no âmago a pele que brada por ti, pelas mãos que esbraseiam e perturbam. Pelo cheiro que inebria os sentidos. O roçar do teu pelo no meu ventre, as curvas que percorres com o teu sorriso. Quisera eu ser louca de te amar por entre as dunas do meu pesar. Quisera eu amar-te de encontro ao mar que nos separa. Por entre os seus afluentes, violei as cores da natureza, plantando a seiva em ventre meu.
Desflorei a mata que encobria o teu ser, apelei aos deuses e todos os outros que quisessem ouvir o grito do prazer que me davas.
Desembarquei sem zelo nessa imensa ilha que te esconde, do mundo, dos outros, de ti.
Naufraguei o meu corpo de encontro ao teu, elevando as serras a montanhas inexploráveis. Subi aos céus em forma de anjo e contigo desci ao inferno do pecado.
Sedento das tuas mãos o meu corpo erguia-se em forma de leito para que repousasses e o caudal inundasse as minhas margens.
Explorei sequiosa o tua boca qual gruta humedecida pela água que a esconde e na tua língua encontrei a fonte para aplacar a minha sede.
Com ela, varreste o meu corpo em forma de lençol.
Numa torrente inquietante, na severa demora, irrompes os meus delírios.
Quisera eu não amar-te…
Quisera eu o concatenamento supostamente necessário para não conter em mim este desvio mórbido da razão contra o qual não valem a experiência nem a argumentação lógica e em virtude do qual eu me afasto da realidade.